por Giulia d'Amore di Ugento
No campo da arte religiosa, dá-se o nome de canivet a um estilo de santinho ou imagem piedosa em voga do Séc. XVII até o final do Séc. XIX, retratando um tema religioso. As bordas, e por vezes toda a imagem, eram perfuradas imitando uma renda. Em italiano, o estilo é chamadomerlettatura, que vem de merletto (renda). Em português, é conhecido como "santinhorendado".
Na maioria das vezes, há uma pintura por cima da "renda" (como no caso acima), pintada a óleo, guache ou aquarela. Retrata um santo, uma santa, uma scena da Bíblia ou dos Evangelhos (abaixo).
Pode haver também frase, flores, árvores ornamentais, querubins etc., pintados à mão ou estampados.
São José coloração à mão, by Alphonse Saintin |
Pode haver uma imagem impressa ou gravada ou uma litografia.
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São Domingo adorando o SSº. Sacramento by Bouasse-LebelEstas preciosas imagens, um suporte para a devoção, eram guardadas nos missais ou colecionadas em álbuns (aqui, um album online). Por vezes, eram distribuidas depois da Missas às crianças. Também se costumava oferecer como lembranças do recebimento dos Sacramentos ou em memória de uma Missa para um defunto. O termo canivet também designa a própria ferramenta (lâmina ou ponta fina) que executa ocorte ou entalhe (découpage). Os motivos costumavam ser:
No verso, por vezes há alguma oração ou um texto piedoso. A découpage e o bordado são trabalhos manuais tradicionais e antigos na Europa. O canivet é uma découpage que produz um efeito rendado. A técnica canivet se tornaria popular no Século XVII, mas suas raízes parecem muito mais velhas, tendo sido encontradas até no trabalho de freiras francesas do Século XIII. Os canivets mais antigos seriam bem grandes (até 40x30cm). Enquanto os dos Séculos XVIII e XIX ficaram cada vez menores, até alcançar, no início do Século XX, um tamanho de cerca de 10x8cm.
Originalmente, o canivet era uma imagem piedosa pintada em pergaminho finamente perfurado com uma faca bem afiada: daí a palavra canivet aplicada ao estilo, cujo nome deriva de "canipulum medieval", uma pequena faca usada por escribas e enlumineurs (monges que faziam as iluminuras) para cortar suas penas de escrever e, por vezes, usada para decorar algumas páginas com motivos entalhados no pergaminho.
Embora existam cópias assinadas, a maioria dos especialistas nesse estilo de gravura em papel permaneceu anônima, ajudando a manter uma aura de "mistério místico" sobre o seu trabalho. O nome de Susanna Mayer de Augusta (1600-1674) no entanto se destacou. Ela era filha de umpintor e mãe de outro pintor. Ela foi uma das primeiras e mais experientes gravadoras de pergaminho de seu tempo.
Posteriormente, vieram as découpages de rendas de fabricação mecânica, graças a uma técnica de gravação com perfuração desenvolvida pela editora francesa Bouasse-Lebel, no século XIX, herdeira da Editora Basset (vide quadro abaixo). Há também a Editora Ch. Letaillé, que sucedeu à Editora Boumard; a Alphonse Saintin e muitas outras. A técnica do canivets também foi utilizada, manualmente ou por máquina, no papel vegetal (abaixo).
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