quarta-feira, 10 de setembro de 2014

O fogo da cólera


Levava São Frei Gil um cântaro às costas e, em caminho, encontrou um homem que lhe pediu de beber. O santo, abstraído em seus pensamentos, nem ouviu o pedido, nem se deteve.
Enfureceu-se o homem. Agrediu o santo com palavras ásperas e grosseiras.
São Frei Gil voltou-se, veio ao encontro do exaltado viajante e ofereceu-lhe o cântaro.
Disse-lhe o homem:
- É singular o teu procedimento. Quando delicadamente te pedi um pouco d’água nada obtive. Recorro à grosseria e tu me ofereces todo o conteúdo do teu cântaro.
Respondeu o servo de Deus:
- A princípio queria apenas saciar a tua sede, agora precisas de toda a água do cântaro para apagar o fogo da cólera que se acendeu em teu coração.
É Jesus o modelo de todas as virtudes, mas principalmente das doçuras; por isso disse Ele: “Aprendei de mim, que sou doce de coração”.
É preciso ter a doçura no interior da alma e exprimi-la nos atos exteriores. Deus não vos pede que não sintais a cólera, porque não está isso no vosso poder; mas pede-vos que não consintais nela. “É da natureza do homem ser assaltado pela cólera” , diz São Jerônimo; “mas é da natureza do cristão não se deixar subjugar por ela.”
São Bernardo diz até que, se o cristão não tivesse ninguém que o contrariasse, devia procurar quem o fizesse, e pagá-lo a peso do ouro, para ter um meio de praticar o sofrimento e a doçura. Se, pois, encontrais essa pessoa sem gastardes nem ouro nem prata, aproveitai-vos dela para o exercício de uma tão bela virtude.
Sede bons até o fundo d’alma e vereis que os que vos cercam se tornarão bons até as mesmas profundezas. Nada responde mais infalivelmente ao apelo secreto da bondade do que o secreto apelo da bondade vizinha.
Autor: (D.) – Lendas do Céu e da Terra

Fonte: http://almascastelos.blogspot.com.br

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